19/11/2024

Visita à Mesquita-Catedral de Córdoba, a fusão dos mundos árabe e cristão

Mesquita-Catedral de Córdoba

A Mesquita-Catedral de Córdoba passou por várias mudanças ao longo dos séculos e hoje é uma das principais atrações da Andaluzia. Fotos: Marcos Santos/Amazonas e Mais

A Mesquita-Catedral de Córdoba é um exemplo de fusão única entre religiões e estilos arquitetônicos. Por muitos séculos, representou o poder do Islã na Península Ibérica e depois, com a Reconquista Cristã, foi consagrada como catedral. É, sem sombra de dúvidas, a principal atração de Córdoba e um dos mais belos monumentos da Andaluzia, região ao sul da Espanha.

Em 1984, a Mesquita recebeu o título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco e em 2014 foi nomeada como Bem de Valor Universal Excepcional. Escavações arqueológicas apontam que a mesquita foi erguida sobre a Igreja do Mártir San Vicente, uma basílica do século 6, a principal da cidade. Abderramán I construiu o templo original entre 785 e 787. O edifício evoluiu ao longo dos séculos, misturando muitas formas arquitetônicas. No século 10, Alhakén II fez alguns dos acréscimos mais luxuosos, incluindo o elaborado mihrab (nicho de oração) e a maqsura (recinto do califa). No século 16, uma catedral com um domo foi erguida no coração do edifício, então reconsagrado. Parte da mesquita foi destruída.

 

A intervenção islâmica

Depois da invasão islâmica em Córdoba, os dominadores muçulmanos derrubam a igreja do Mártir São Vicente e começam no ano de 785 a construção da Mesquita, um edifício que chegou a considerar-se o santuário mais importante de todo o Islã Ocidental, em uma época em que Córdoba era a capital de Al-Andalus, território que se estendia até o rio Douro. Este impressionante recinto que possuía finalidade religiosa e também social, cultural e política, atravessou quatro fases construtivas:

Abderramán I ou Abd al Rahman I – Se inspira na Mesquita de Damasco, com a tradicional distribuição em sahn (pátio de ablução) e zullah(sala de oração). Mas se percebe uma forte influência da arte hispano-romana, porque se aproveitam os materiais da destruição da igreja do Mártir São Vicente e o sentido das naves se traça em direção, e não em paralelo, ao muro da quibla, como se sucedia nas igrejas visigodas. Por outro lado, os arcos sobrepostos e a alternância de ladrilho e pedra (vermelho e bege)  tiveram seu modelo na tradição hispano-romana.

Abderramán II ou Abd al Rahman II – Durante esta próspera etapa do Emirado Independente, ainda com intensas perseguições aos cristãos, se realizou a primeira ampliação da Mesquita, repetindo o esquema de seu antecessor e prolongando o pátio e as naves do oratório. Neste pátio, o califa Abderramán II construiria o minarete que foi incorporado na torre da Catedral.

Alhakén II ou Al Hakan II – Em pleno esplendor do Califado, a Mesquita Aljama recebeu uma ampliação tão rica e original que Córdoba substitui a mesquita de Damasco como referência. Se trata de uma obra única, não só pelos materiais trabalhados, assim como pela presença de artistas e arquitetos bizantinos enviados pelo imperador cristão Nicéforo Focas, que também presenteou os belíssimos mosaicos utilizados na construção do mihrab (espaço sagrado da pessoa que dirige as orações). Há outra contribuição cristã: a disposição em cruz que forma o conjunto das quatro claraboias com o mihrab.

Almanzor ou Al Mansur – Realizou a última ampliação, acrescentando oito naves ao longo do lado do edifício, incluindo o pátio. Esta foi a obra mais extensa de todas, em um empenho de ostentação do poder. No entanto, parece pouco original, já que se limita a copiar a estrutura precedente, barateando os custos. Por exemplo, o efeito bicolor dos arcos não se deve a alternância de pedra e ladrilho, mas é pintado.

Mesquita-Catedral de Córdoba

Inspirada na Mesquita de Damasco, mas com forte influência hispano-romana. Fotos: Marcos Santos/Amazonas e Mais

Mesquita-Catedral de Córdoba, na Andaluzia, Espanha

Abderramán I construiu o templo original entre 785 e 787.

Com a reconquista cristã, muitas capelas foram construídas para atender o desejo dos fieis de se enterrarem na catedral.

Mesquita de Córdoba, na Andaluzia

O elaborado mihrab (nicho de oração), construído por Alhakén II.

O belo Coro, que possui cadeiras entalhadas.

Mesquita-Catedral de Córdoba, na Andaluzia, Espanha

A Capela Maior é uma mistura de estilos arquitetônicos.

A Custodia Del Corpus Christi, de Enrique Arfe.

O Pátio de Los Naranjos, ou Pátio das Laranjas, com o domo e a nave central ao fundo.

Mesquita-Catedral de Córdoba, na Andaluzia, Espanha

O Pátio das Laranjas visto do alto da Torre do Campanário.

Mesquita-Catedral de Córdoba, na Andaluzia, Espanha

A Torre do Alminar.

 

A conversão em catedral

O rei Fernando III, o Santo, reconquista Córdoba em 1236. Foi sua vontade que, na entrada da cidade, a Cruz precedesse o perdão real, simbolizando que ele se importava mais com a recuperação da fé crista do que com a conquista territorial. Também preferiu não estar presente no ritual de purificação da Mesquita, para que o Rei Eterno fosse o único protagonista de uma cerimônia que converteria cada pedra do recinto em um lugar consagrado a Cristo.

É evidente que os cristãos ansiavam proclamar o Evangelho pelo qual muitos haviam entregado suas vidas. Se tratava de recuperar um espaço sagrado ao que se havia imposto a presença de uma fé alheia a experiência cristã. Abaixo da claraboia de Alhakén II, aonde se celebrou a primeira Eucaristia de Dedicação à Catedral em 1236, se ergueu a Capela Maior Villaviciosa. Assim, as reformas da Catedral foram motivadas pela necessidade de restaurar o culto interrompido com a dominação islâmica, respondendo ao anseio de contemplar signos cristãos, ou aos inconvenientes de celebrar a liturgia entre um bosque de colunas.

 

A transformação cristã

Com a reconquista cristã, parte da mesquita foi destruída para acomodar uma catedral. As obras da Capela Maior, do Cruzeiro e do Coro, rodeadas de polêmica, começaram em 1523, e se devem aos arquitetos Hernán Ruiz I, II e III, Diego de Praves e Juan de Ochoa. Resultou numa planta de cruz latina que se integra genialmente as estruturas do califado na obra gótica, renascentista e barroca. O retábulo maior se realiza sob o projeto de Alonso Matias. O Coro se cobre com abóboda inspirada na Capela Sistina, e possui cadeiras entalhadas por Pedro Duque Cornejo, em 1758.

As capelas são fruto do desejo dos fieis de se enterrarem na catedral e de povoar os muros de imagens expressivas do mistério de Cristo. Destacamos a Capela Real, de gesso mudéjar, que conteve os restos dos reis Fernando IV e Alfonso XI; a Capela da Puríssima Concepção, antigo batistério e atual custódia do Santíssimo; a barroca Capela de São Paulo e tantas outras capelas e altares que acolhem um rico patrimônio artístico fruto da fé e devoção cristã.

No local, encontra-se o Tesouro da Catedral, um conjunto de peças usadas nos cultos. Destacamos a Custodia Del Corpus Christi, de Enrique Arfe, que ainda sai em procissão pelas ruas de Córdoba, testemunhando a devoção do povo pela Eucaristia.

O pátio muçulmano se remodelou com a construção dos claustros. No século XV, as palmeiras são substituídas pelas laranjeiras que o batizam originalmente de Patio de los Naranjos. Cobrindo o minarete de Abd al Rahman III, se construiu a Torre do Alminar, cujo corpo de sinos se deve a Hernán Ruiz III. A entrada na torre é paga. Ela possui 93 metros e é preciso subir pela escada estreita até o topo, que oferece uma bela vista da cidade. A torre está encostada na Porta do Perdão, em estilo mudéjar, a principal entrada no recinto.

 

A cidade de Córdoba

A Mesquita-Catedral pode ser a principal atração da cidade, mas você não vai se arrepender se dedicar um pouco do seu tempo para percorrer o centro histórico de Córdoba, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1994.

Entre outras atrações da cidade está o Álcazar dos Reis Cristãos, um edifício militar que foi mandado construir pelo rei Afonso XI de Castilha em 1328; a Ponte Romana sobre o Rio Guadalquivir, construída no início do século 1 d.C, na época de dominação romana; as ruelas floridas, com destaque para a Calleja de las Flores; e a Plaza de la Corredera, única em formato quadrangular de toda a Andaluzia.

Como você viu, Córdoba tem atrações de sobra para preencher um ou dois dias na cidade.

 

Como visitar a Mesquita-Catedral de Córdoba 

Abre de segunda a sábado, das 10h às 19h. Aos domingos, das 8h30 às 11h30 e das 15h às 19h. A entrada é gratuita de segunda a sábado, das 8h30 às 9h30. Neste horário não se permite a visita de grupos. As entradas podem ser adquiridas no local ou antecipadamente pelo site oficial.

O Acesso à Torre do Alminar é das 9h30 às 18h30 com entradas a cada meia hora. A entrada é paga.

Diariamente, são realizadas missas na catedral. Para conferir os horários é só consultar o site oficial.

End: Calle Cardenal Herrero, 1.

 

Mais fotos da Mesquita-Catedral de Córdoba:

Mesquita-Catedral de Córdoba, na Andaluzia, Espanha

Mesquita-Catedral de Córdoba, na Andaluzia, Espanha

 

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